A coexistência das espécies

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Wagner Zaparoli

Uma das teorias sobre a extinção dos dinossauros na Terra faz referência à queda de um cometa na região onde se situa o México atualmente. Essa teoria diz que poucos dinossauros morreram imediatamente após o impacto do cometa ou foram vítimas iminentes da queda. Grande parte deles morreu por falta de alimentos, numa espécie de reação em cadeia.

Eu explico. Com a queda do cometa, uma nuvem gigantesca de poeira (ou vapor) formou-se no céu a ponto de impedir senão toda, mas grande parte da superfície terrestre de receber a luz solar. As plantas, sem essa luz, não conseguiam realizar a fotossíntese e começaram a morrer. Com a falta delas, os animais herbívoros que delas se alimentavam, também começaram a morrer e, por conseqüência, os animais carnívoros que dependiam dos animais herbívoros para sobreviver, finalmente desapareceram. Ou seja, uma reação que extinguiu toda uma cadeia alimentar.

Se essa teoria retrata de fato uma realidade, ainda é difícil de se provar. Mas hoje ela é a teoria mais bem aceita pela comunidade científica para o desaparecimento dos gigantes da Terra.

Utilizando essa mesma linha de raciocínio aplicado a um universo diferente, um grupo de cientistas publicou há alguns anos na revista americana Science, uma notícia no mínimo sombria para o futuro do planeta. Provavelmente o número de espécies ameaçadas de extinção seja muito maior do que os números divulgados atualmente.

 

A pesquisa

Partindo-se de estudos que dizem que em 50 anos metade de todas as espécies do planeta terão desaparecido, Lian Pin Koh, Robert Dunn e Navjot Sodhi (Universidade Nacional de Cingapura), Robert Colwell (Universidade de Connecticut, EUA), Heather Proctor e Vincent Smith (Universidade de Glasgow, Escócia), resolveram descobrir a extensão desse problema analisando um ponto esquecido por muitos cientistas: a coexistência das espécies.

Hoje os estudos sobre extinção global das espécies ignoram a extinção de espécies “afiliadas” e “hospedeiras”, o que propicia um erro na contagem real das espécies ameaçadas. Posto isso, os pesquisadores e respectivas equipes puseram-se a analisar os dados de plantas e animais considerados ameaçados como os insetos, aracnídeos e fungos. Na análise foi verificado se cada espécie ameaçada era afiliada ou hospedeira de outra espécie qualquer, ou seja, se dependia ou possuía dependentes.

Como essa relação de dependência nem sempre é de um para um (por exemplo, nem todos os parasitas dependem de um único hospedeiro, mas sim de vários), a equipe foi obrigada a inserir um fator denominado “grau de dependência” entre as espécies, semelhante ao grau de parentesco entre os humanos.

Apesar da complexidade da pesquisa a equipe analisou detalhadamente uma amostra de 12,2 mil espécies e chegou à triste conclusão de que outras 6,3 mil espécies estariam extintas caso essa amostra confirmasse os prognósticos negativos para a natureza e desaparecessem da face da Terra.

Heather, uma pesquisadora de origem canadense, exemplifica as conclusões com um fato real: a extinção de uma determinada planta em Cingapura provocou o completo desaparecimento de uma espécie de borboleta, a Parantica aspasia. E para sempre!

 

Abrindo os olhos

Sem dúvida essa pesquisa se mostra fundamental ao menos para recolocar o número da devastação da natureza impetrada pelo homem em seu devido lugar. Mas ao fazermos uma análise racional dos números de espécies ameaçadas sem mesmo levar em conta os resultados dessa pesquisa, observamos o absurdo que poderá ocorrer nas próximas décadas.

Será que o desaparecimento dos gigantes dinossauros não pode nos ensinar nada? Será que, depois de tantos anos de estudos, pesquisas e evolução não conseguimos enxergar que o meio-ambiente é um sistema altamente integrado de mútuas dependências? Onde afinal está a inteligência humana?