Microorganismos no espaço

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Recentemente notícias vindas da Estação Espacial Internacional (ISS em inglês) deram conta de achados incomuns em sua superfície externa. Astronautas, em momento de limpeza da Estação, encontraram traços de plâncton marinho prosperando em situação de gravidade zero, temperaturas extremamente baixas e repleta de raios cósmicos, um ambiente impensável para a evolução da vida.
Como a dúvida e a curiosidade sempre permearam os caminhos da ciência, neste caso surgem duas questões iminentes: como os microorganismos chegaram à Estação Espacial a mais de 300 km de altitude? E como conseguiram prosperar?
Por ora não há respostas definitivas para nenhuma das questões, somente alguma especulação que descrevo adiante. O fato é que esse evento recolocou na pauta das discussões sobre a origem da vida na Terra a teoria da Panspermia, a qual afirma que a vida chegou aqui através de cometas e outros astros siderais. Encontrando um ambiente propício, os organismos extraterrestres prosperaram rapidamente criando a atual e rica biodiversidade da qual fazemos parte.

Superando as adversidades

Há alguns anos pesquisadores brasileiros, entre eles Claudia Lage e Ivan Paulino Lima, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com pesquisadores da Itália e do Reino Unido, se embrenharam em um estudo para testar a resistência de microorganismos em ambiente que simulava as condições abrasivas do espaço cósmico.
Sabia-se, de antemão, que alguns microorganismos se especializaram na sobrevivência em ambientes inóspitos como os áridos desertos, as crateras dos vulcões em atividade, as geleiras do Pólo Sul e as profundezas oceânicas. Mas, havia a dúvida sobre a sobrevivência no espaço.
Utilizando aceleradores de partículas como o montado no Laboratório de Luz Síncroton em Campinas, os pesquisadores selecionaram algumas bactérias e as submeteram por meses a fio a doses de radiação ultravioleta, irradiação de prótons, íons de carbono e elétrons no vácuo, numa espécie de simulação do ambiente interplanetário.
Os resultados não poderiam ser mais expressivos. Praticamente todas as candidatas superaram os desafios, sendo a bactéria Deinococcus radiodurans a mais resistente delas. Essa superbactéria, de acordo com Lage, teria totais condições de vagar pelo espaço durante milhões de anos, passar por estrelas como o nosso Sol – verdadeiras usinas de radiação – e pousar na Terra, suficientemente intacta para prosperar numa longa vida de diversidade.

Os segredos da sobrevivência

Microorganismos como a bactéria Deinococcus radiodurans e as arqueias Natrialba magadii e Haloferax volcanii conseguem sobreviver em ambientes extremos devido a um elemento em sua formação fisiológica: a membrana celular. Além de proteger o material genético contra a radiação externa – elemento abundante no espaço – também inibe a perda de água para o ambiente.
No topo da escala da sobrevivência, a Deinococcus apresenta um mecanismo adicional à membrana, que é um estoque de material genético para reposição. Formada por quatro partes idênticas geneticamente, a bactéria, ao perder uma parte, utiliza as outras do estoque para se manter viva e intacta.
Assim, a idéia de que nem o espaço sideral é o limite, microorganismos poderiam popular quaisquer partes do Universo tão próximas ou tão longínquas do nosso Sistema Solar.
Quanto aos rastros de plâncton encontrados na ISS, a hipótese mais aceita atualmente é de que correntes atmosféricas os levaram dos oceanos da Terra.