O novo e o velho no balcão da política

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Gaudêncio Torquato

O novo e o velho voltam a marcar um encontro na esquina da política, a 20 meses do pleito eleitoral de 2018. Os dois adjetivos são recorrentemente lembrados toda vez que aparece pesquisa de opinião sobre eventuais contendores pela disputa do futuro comando do país. (A propósito, esta última pesquisa CNT/MDA passou a ser o centro das especulações). Posicionar candidatos no ranking de favoritos a tanta lonjura das próximas eleições presidenciais, não passa de exercício de prestidigitação, um desperdício. O que se pode garantir, de antemão, é que um intenso sentimento de mudança permeia a comunidade política.
Por consequência, o desejo de alterar as regras do jogo político aponta para perfis vestidos com o terno do “novo”, que aqui ganha aspas pela dubiedade inerente ao conceito que o termo apresenta no dicionário da política. Afinal, o que significa “novo”? Há o “novo” que transita exclusivamente na faixa etária, sem se identificar com mudanças ou reformas na política; e há o “novo”, cuja estampa combina estética e semântica, de modo a compatibilizar a jovialidade do perfil com padrões éticos e morais, e modelos avançados de gestão. Mas é praticamente impossível designar A, B ou C como estilos integralmente identificados como “novos”, eis que a viabilidade político-eleitoral é fruto das obsoletas práticas: acordos partidários, cooptação de apoio por via de recompensas, repartição do bolo do poder entre aliados etc.
Vista a dificuldade de se acreditar que um ator político no Brasil possa encarnar o conceito de novidade, se os entes partidários continuam pasteurizados, que arquitetura poderia abrigar os mais assépticos? Tentemos alinhar os elementos dessa edificação, a começar pela imagem do novo, figura não comprometida com a velha política.
O estilo vitorioso do empreendedor parece apropriado ao momento. Equilíbrio e bom senso são valores que transmitem segurança. O despojamento e a simplicidade, com desapego às coisas materiais, serão bem vistas. A organização e o controle mostram atenção com os orçamentos. A coragem de fazer coisas que pareciam impossíveis: é isso que se exige. Os novos desafios estão a exigir posturas fortes, determinadas, capazes de vencer as intempéries. Preguiçosos não terão vez.
Quem caberia bem nessa vestimenta para 2018? Lula? Representa o populismo. É um palanqueiro eficiente, mas alquebrado pela tempestade que se abateu sobre o PT. O legado do primeiro mandato de Lula será esmaecido pela derrocada do dilmismo. Jair Bolsonaro, o militar de extrema direita, encarnaria o novo? Jamais. Trata-se da imagem mais definida do conservadorismo. Aécio Neves? O senador é a extensão da mineirice. Pode ter uma cara mais jovial, mas que ideias avançadas colam em sua imagem? Geraldo Alckmin? Da mesma forma, não significaria novidade. Poderia arrastar para si a boa avaliação de seu governo. Marina Silva? Identifica-se com compromissos éticos e morais, sem dúvida, mas exibiria um déficit de autoridade.
Quaisquer que sejam os postulantes de 2018, vale lembrar que o caminho do “novo”, seja o legítimo ou o renovado, deverá ser pavimentado com a argamassa da economia. Expliquemos. Dois deles têm muita ligação com a política: os instintos combativo e nutritivo. O primeiro se relaciona à luta do dia a dia. A luta pelo emprego, pelo bem-estar. O segundo diz respeito ao estômago. Acesso ao consumo. Donde tiro minha equação: BO+BA+CO+CA= Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça disposta a votar em quem proporcionou a melhoria. Os dois instintos dependem, portanto, da economia. Portanto, a locomotiva econômica é quem puxará os carros do trem e seus passageiros.
Há um oceano a passar por baixo da ponte até outubro de 2018. Na política, tudo é possível. Ainda mais nesses tempos em que os “novos” envelhecem cada vez mais cedo.

(Colaboração de Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação. Twitter: @gaudtorquato).

Publicado na edição nº 10096, de 21 e 22 de fevereiro de 2017.