Morte por atacado

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Não bastassem as 60 mil mortes de jovens a cada ano, o Brasil agora quer obter promoção em novo ranking: a mortalidade infantil. O índice estava em queda desde 1990, mas subiu em 2016 e continua em escala ascendente em 2017.
Em 1990 a taxa de mortalidade infantil – número de crianças mortas até um ano para cada mil nascidas vivas – era de 47,1. Desde então e até 2015, houve redução na mortandade. Neste ano foi de 13,3 óbitos por mil bebês. Em 2016, começou a subir novamente: 14 crianças não chegam a um ano de idade, para cada mil nascidos com vida.
De 1990 a 2015, a queda foi de 71,7% e em 2016, subiu 4,8%. Tudo indica subida também em 2017. Enquanto isso, em 2018 já se contabiliza 21 mil mortos violentamente no primeiro semestre. Entre jovens e crianças, continua o morticínio. Sem falar nos milhares de abortos – são vidas sacrificadas por quem não quer ver nascer a criatura por ela gerada – , nas balas perdidas, nos acidentes de trânsito, na faixa etária excluída da divulgação.
O que significa esse quadro tétrico?
Primeiro, falta de educação. Educação de qualidade é a mais valiosa estratégia de transformação existencial do ser humano. Muitas dessas mortes derivam de ignorância das mães adolescentes, da falta de cuidados, do despreparo. Mas há também falha estatal: assistência pré-natal, ausência de saneamento básico, falta de vacinação.
Mais um retrocesso no País que acaba com as florestas, polui suas águas, compromete sua atmosfera, emporcalha seu território.
Uma lástima para quem já foi bem melhor em tempos idos, quando havia respeito aos valores, honrava-se a vida humana, respeitava-se o padrão de higiene, de cuidados em relação à gestante, à parturiente, ao nascituro e ao infante que vinha à luz em Pátria com vocação para um elevado grau civilizatório.
Há omissão generalizada: do governo, mas também da cidadania. Esta é a responsável pelas más escolhas. Não se interessa pela fiscalização dos gastos públicos, não cobra, não exige conduta compatível com o Estado de Direito de índole democrática.
Quem paga, infelizmente, é a infância inocente, que cede o seu destino para engrossar estatísticas de desgraças de nação subdesenvolvida.

Colaboração de José Renato Nalini, Reitor da Uniregistral, autor de “Ética Ambiental”, docente universitário e conferencista).

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Publicado na edição nº 10312, de 18 e 19 de setembro de 2018.