União de esforços para salvar as florestas

0
367

Maurício Brusadin

A estação Mirante de Santana, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), registrou em setembro um total de chuvas de apenas 11,1 mm, que corresponde a 15% da média histórica para o mês, de 75 mm. O volume registrado se coloca entre os dez menores para o mês de setembro, desde 1961, isto é, em 56 anos de medição no Mirante.

Com esse dado, o instituto não hesita em apontar o último setembro na cidade de São Paulo como um dos mais secos de sua história climatológica. Foram somente dois dias de chuva, dias 29 e 30.

Medições de outras instituições confirmam o dado. As estações automáticas de medição da qualidade do ar da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), localizadas em Interlagos, Ponte dos Remédios e Pico do Jaraguá, na Capital, registraram, respectivamente, 19, 19 e 14 dias com umidade relativa do ar abaixo dos 30%, o que já configura Estado de Atenção, recomendando-se evitar a prática de exercícios físicos ao ar livre, entre outras medidas. Em alguns desses dias, o índice esteve abaixo dos 20%, configurando Estado de Alerta. Lembramos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que, quando a umidade relativa do ar estiver abaixo dos 60%, já ocorre desconforto para os seres humanos.

Foi nesse cenário que atravessamos o mês de setembro de 2017, sem chuvas, umidade relativa do ar extremamente baixa, campos e matas secos. Bastou uma bituca de cigarro, jogada inadvertidamente na beira da estrada, uma vela acesa deixada depois de um ritual religioso ou mesmo um fundo de garrafa quebrada, transformado em lente de aumento polarizando a energia do sol. Pronto, temos (e tivemos efetivamente) um incêndio florestal como amplamente veiculado pelos meios de comunicação.

Outras causas, agora já criminosas, podem ser elencadas como deflagradoras de incêndios em matas e pastos. O propósito de vândalos em atear fogo à vegetação, a soltura de balões, entre outras.

As causas, as mesmas de todos os anos, encontraram neste ano, no mês de setembro, um ambiente especialmente propício para queimar extensas áreas de vegetação, causando um prejuízo inestimável para a flora, que vai demandar dezenas de anos para se recuperar, e para a fauna, vitimadas pelo fogo ou que perderam seu habitat natural.

Operação Corta-Fogo, implementada pela Secretaria do Meio Ambiente, contabilizou no período de 1º de janeiro a 2 de outubro de 2017, 55 focos de incêndio em unidades de conservação, que queimaram uma área de 2.954 hectares.

Com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foi contabilizada, no mesmo período, a ocorrência de 5.200 focos de calor no Estado de São Paulo, com uma variação positiva de 75% em relação ao ano anterior, quando foram registrados 2.964 focos.

Esses números mostram as condições climatológicas que vivenciamos neste ano, extremamente favoráveis para o início e o alastramento do fogo em parques estaduais, estações ecológicas e estações experimentais.

Só quem esteve na linha de combate, enfrentando literalmente o calor, pode mensurar o drama de ver uma frondosa paineira sendo consumida pelo fogo ou vislumbrar um animal correndo desesperado para escapar com vida daquele inferno, numa luta inglória contra as chamas que se levantam a todo instante, mesmo depois de apagadas, ressurgindo das cinzas e lançando a sua língua flamejante em todas as direções.

É por este motivo que não posso deixar de enviar esta mensagem a todos que, em vários pontos do Estado, envidaram todos os esforços para salvar o bem mais precioso das nossas unidades de conservação, as matas que abrigam uma fauna e uma flora das mais exuberantes do planeta.

São os homens e as mulheres que trabalham em nossos parques, estações ecológicas e experimentais; os gestores dessas unidades; os bravos soldados do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar Ambiental que, mesmo habituados a essa lida, renovam as suas forças no combate ao fogo; as equipes das várias prefeituras onde se localizam as unidades de conservação; os membros das organizações não governamentais, sempre prontos a dar a sua contribuição para o bem-estar do planeta e, finalmente, louvo os voluntários que deixaram o conforto de suas casas, às vezes, em meio à escuridão, para “fazer a sua parte”, contribuindo para impedir que o dano ambiental às áreas protegidas atingisse proporções desastrosas, sem se preocupar com qualquer retribuição, a não ser exercer a sua cidadania em toda as sua plenitude.

O Sistema Ambiental Paulista já se preocupa com o que pode vir a acontecer em 2018, caso a onda atípica de calor e a falta de chuvas seja semelhante a deste inverno; e já se prepara para o próximo período de estiagem, indo atrás de recursos para enfrentar eventos desse porte. E, como não poderia deixar de ser, continuar contando com o apoio fundamental e significativo da força humana e a união de esforços, que fez tanta diferença para que o sucesso da Operação Corta-Fogo fosse alcançado.

Obrigado a todos.

Colaboração de: Maurício Brusadin, Secretário do Meio Ambiente